quinta-feira, outubro 26, 2006

 

Envergonhado


"No fundo o que é enlouquecer? É sair de uma determinada norma, não é? É preciso muita coragem para se ser realmente louco."

"No fundo, um escritor é um bocado um ladrão, um gatuno de sentimentos, de emoções, de rostos, de citações. Um livro é sempre feito de pequenos roubos com a vantagem de não sermos condenados (...)."

in O Jornal, 30 de Outubro de 1992

"Há mais artistas do que obras de arte."

in Visão, 27.02.2006


Tinha uma das minhas estórias para partilhar com vocês, mas... acabei de ver o programa "Grande entrevista" em que o convidado foi o enorme António Lobo Antunes. A voz pausada e profunda como o azul dos seus olhos e com um sorriso de criança traquina, só veio provar que para ser génio basta ser Génio. Falo com muita gente que me diz que os livros dele são discutiveis(??!?), ainda bem, tal como Agostinho da Silva dizia: "se partilham da minha opinião, significa que eu estou errado...". O homem é "muito á frente". Os meus rabiscos ficam para outro dia. Aconselho-vos, e só para começar, os livros de crónicas que são fenomenais. Até á proxima, até lá deixo-vos uma das suas muitas pérolas:

Carta da Guerra em Angola Enviada por Lobo Antunes ao Irmão Mais Novo


Remetente:
António Lobo Antunes
Alferes-médico SPM 2676
Ex.mo Sr. Manuel Lobo Antunes
Travessa dos Arneiros, 14
Lisboa 4
Metrópole
Redação: A Sopa
27-04-1971, em Ninda

Querido Manuel,

Eu estou em Angola. Eu gosto muito de Angola. Eu vim para Angola num barco muito grande, com muitos soldados. Eu vou voltar de avião. Eu vou aí em Setembro. Eu tenho patilhas. Eu tenho cabelo rapado. Eu tenho muitas saudades de todos, tais como da Margarida. Angola é em África. África tem leões, macacos, gazelas, elefantes, pacaças, palancas e muitos pretos. Os pretos têm um cabelo com muitos caracóis e dentes brancos. Os pretos não falam português, falam preto. A gente não percebe os pretos a falar preto. Os pretos às vezes falam português. Os portugueses nunca falam preto. Em Angola há muito calor todo o dia. Eu tenho uma espingarda mas ainda não matei ninguém. Eu visto farda. Farda é um fato igual para todos. Eu como coisas que não gosto de comer mas como porque há muita gente com fome e não devemos desperdiçar. A colher fica em pé na sopa de tal maneira a sopa é grossa. A sopa serve também para pegar tijolos uns aos outros. Há casas que foram feitas graças à sopa. A sopa tem muitas coisas dentro, que a gente tem de mastigar, e às vezes corta-se a sopa com a faca. A sopa é mais dura do que um bife muito duro. As colheres de sopa caem no estômago da gente com um barulho parecido com pedras a cair num poço. Eu não gosto de sopa. Eu nunca mais como sopa. Já me nasceram dentes na barriga para moer a sopa, e os meus intestinos, a fazerem a digestão da sopa, parecem mesmo um motor de traineira. Quando me sento à mesa e vem a sopa tenho medo porque a sopa parece cimento. Eu estou forrado de sopa por dentro.

Quando me assoo sai sopa do nariz. Quando espirro espirro gotinhas de sopa. Outro dia tiraram-me sangue e um talo de couve saiu-me da veia e entupiu a agulha. De vez em quando, quando há feridos, fazem-se transfusões de sopa, e a gente vê o grão e o feijão da sopa a saírem de um para entrarem no outro. Quando há feridas é preciso desinfectar a sopa que sai da ferida. Se se espreme uma borbulha aparecem logo bagos de arroz de sopa. A sopa é o nosso pior inimigo, a espiar a gente do fundo das panelas duas vezes por dia, ao almoço e ao jantar, a sopa ataca-nos. A sopa já fez muitas baixas. Às vezes a sopa traz brindes como os bolos-reis tais como baratas, insectos, borboletas, que morreram envenenados pela sopa. De maneira que a gente vai começar a usar a sopa como remédio para os ratos.

Os americanos já nos pediram para a gente mandar sopa para o Vietname, porque os comunistas morrem todos se a comerem. Eu gostava muito de dar sopa à sopa. Eu vou acabar. São horas de comer a minha sopa.


António Lobo Antunes
Vítima nº 07890263 da sopa
Morto no campo de batalha do refeitório com um ataque agudo de sopa

 

Confesso


Nos ultimos dias não escrevi nada porque estou completamante rendido á minha nova brincadeira... o meu N73.
Desculpem-me mas não comprava telemovel há 8 anos e estou deslumbrado. Um pequeno aparelho que até faz de telefone...Estou a aprender como escrever no meu blog com o dito aparelho. Depois dou-vos as novidades!

quarta-feira, outubro 25, 2006

 

Dois filmes que não vou perder

Vem mesmo a calhar. Depois de hoje de manhã ter estado a comentar a beleza de um dos melhores filmes de sempre - Out of Africa, Africa minha - Com a belissima Meryl Streep e o Robert Redford, pronto... o muito profissional Robert Redford. Descobri num dos programas sobre cinema do canal 2 dois filmes com os já citados actores, que , na minha opinião são imperdíveis
- O diabo veste Prada
- Vidas inacabadas.



Olhem só os companheiros de arte que com eles partilham o grande ecrã...
Se já viram não me contem o fim , mas digam se são realmente bons, tá??










quinta-feira, outubro 19, 2006

 

É simplesmente delicioso, uma barbaridade atrás da outra...

"As rãs: Eu gosto muito de rãs. As rãs arrotam a noite toda. As rãs são mais pequenas que as vacas e mais grandes que um pintelho. As rãs não têm pintelhos. As rãs põem ovos pela paxaxa que depois dão rãzinhas pequenas. Se as rãs tivessem pintelhos na paxaxa arranhavam os ovinhos que são muito pequenininhos e as rãzinhas que estão lá dentro iam morrer porque entrava água pelas arranhadelas e elas morriam afogadas e porque quando são pequenas não têm patas e não sabem nadar. Eu também ainda não tenho pintelhos mas já sei nadar. Também ainda não tenho paxaxa mas um dia vou ter muitas. As rãs são as mulheres dos sapos. Os sapos não têm unhas por isso não podem coçar os tomates. É por isso que eles andam com as pernas abertas a arrastar os Tomates que é para os coçar. E quando se picam nos tomates os sapos dão saltos. As rãs também dão muitos saltos, por isso têm a paxaxa sempre aos saltos. Eu gosto muito de rãs. E gosto muito de sapos."

João, 6º ano,

 
Genial

Estes "moços" pegaram em 6 passadeiras e fizeram um video-clip espectacular. Do nada fizeram o tudo. Quando se tem tudo, regra geral, não se dá valor a nada. Depois basta um pequeno senão e parece que todo o mundo vai desabar em cima das nossas cabeças. Com a felicidade é a mesma coisa, só notamos o quanto fomos felizes quando algo está mal, ou menos bem. Não damos valor aquilo que temos nem aceitamos as pequenas coisas como dádivas, não as transformando em algo genial. Esta treta de conversa vem de encontro as opiniões que tenho recebibo a respeito do final da última estória. Enquanto a pequena andou triste, tudo bem. Depois teve a sorte de ter um furo e ... fez lembrar a "floribela"(gregório). Fiquei satisfeito com as criticas negativas pois denota que estão mais atentos as minhas estórias do que eu pensava, mas... não se esqueçam que se não aproveitarem a vida, se não vos acontecer um furo, existem outras coisas bem mais perto (quem sabe uma passadeira de jogging), que pode fazer toda a diferença.
E esta mensagem tambem é dirigida a mim. Abraços e BOM FIM DE SEMANA

quinta-feira, outubro 12, 2006

 

Fim de noite (parte 2) Mais vale tarde...

O mais estranho foi não ter sentido medo! Ele chegou, com um sorriso envergonhado, sou o Viriato e um dos meus passatempos preferidos é mudar pneus, e começou a trabalhar. Como se mudar pneus ás 5 da manhã, numa rua deserta, a uma rapariga como ela, fosse a coisa mais natural do mundo.
Ainda há 10 minutos quando, encostada ao automóvel de pneu furado, abandonada por tudo e todos, a chorar, prometeu deixar o rio seguir o curso do seu leito, não podia imaginar o remoinho que iria encontrar logo á frente.
- Normalmente quando vou para o trabalho nem passo por esta rua, mas hoje apeteceu-me caminhar mais um pouco, estranho, a esta hora da madrugada. Está com frio? E sem dar tempo de responder, levantou-se, despiu o pólo de manga comprida que trazia vestido, e ofereceu-lho, olhando-a nos olhos.
Ela continuou na estranha letargia, e sem nojo nem pudor, mergulhou nas águas profundas, e enfiou a blusa, sentindo o seu cheiro e a sua intimidade.
De mangas de camisa arregaçadas, ele continuava a trabalhar, e ela não conseguia tirar os olhos das suas mãos e dos seus braços. Noutra circunstância, nem tinha reparado nele, de meia-idade, cabelo grisalho, a queda de cabelo já tinha desbravado uma pequena clareira no topo da sua cabeça, tão visível agora que ele estava a seus pés, que em conjunto com a sua barba bem tratada, lhe dava um ar de franciscano. Não, noutra circunstância não tinha reparado nele, mas agora ele era a única pessoa, o único homem que se encontrava na rua. Sim ele era Único.
- Trabalho feito – Começou ele ainda no chão, e sem levantar os olhos do pneu continuou. Sai de casa, não havia ninguém para me despedir. Quando chegar á noite a casa, não vai estar ninguém á minha espera. Os meus dias são como as minhas noites, acabam tarde e começam cedo, escuros e sós. Levantou-se e de olhos nos olhos continuou - Mudar este pneu foi a coisa melhor que me aconteceu nos últimos tempos – Deu um passo em frente agora estava frente a frente – Não posso esperar por outro furo na sua vida para a conhecer melhor.
Ela resolveu respirar fundo e afogar-se nas águas calmas e repousantes dos seus braços.
Desejou nunca mais largar aqueles braços, aquela âncora. Estava salva.


quarta-feira, outubro 11, 2006

 

A minha cidade




Para quem não conhece, para quem quer conhecer, para quem cá vive mas anda distraido e, principalmente, para quem ama esta cidade maltratada e esquecida...BEJA.




segunda-feira, outubro 09, 2006

 

Procuro um titulo para esta foto...


 

Estarei doido

Numa rápida passagem pelas revistas e jornais de hoje encontrei autenticas pérolas, asneiras e afirmações do arco-da-velha:
- Meio mundo (para não dizer a totalidade) está "chocado" com os testes nucleares da Coreia do Norte. Um dos paises que expressou a sua indignação oficialmente foi, e espanto dos espantos, a nossa amiga França. Então não foi, há mais ou menos dois anos, que esse mesmo estado procedeu a um ensaio nuclear num paraíso tropical no meio do pacifico, Atol de mororoa (desculpem se escrevi mal o nome), então os francius podem e os xinocas não, então aquela treta do fraternité igalité...é só fachada???
O paquistão e a india tambem ficaram muito preocupados, mas tambem tem armas nucleares...os EUA, a Russia... tenham vergonha, não se joga pedras ao ar quando se tem telhados de vidro. (e os cabrões da coreia do norte têm mesmo as armas nucleares...DASSS!).
- Mudando de tema, tinha prometido a mim mesmo que não tocaria no assunto, mas a coisa tomou porporções inimagináveis e deveras preocupantes, claro que vos estou a falar da Floribela. Tambem eu não liguei quando o meu filho chegou da escola a cantar uma canção, que eu descobri posteriormente, era da anteriormente referida novela. Só tive de evitar o zaping do referido canal à hora daquela miséria. Mas era como um cancro, primeiro surgiu no horário nobre, depois no programa da manhã, da tarde, no Herman Sic, não dá mais nada. Os dialogos são pessimos, os actores desmpenham papeis mediocres, o guarda roupa e caracterização de vómitos e os temas são inapropriados para crianças, e se são para adultos então ... é para senhoras tipo "explica-me como se eu fosse muito burra". Como se não bastasse e actriz aparece na revista 7dias com o seguinte desejo..."quero adoptar uma chinezinha" (?!!??). Não é o maximo?
- Pela 2ª vez num curto espaço de Tempo foram baleados dois "jovens" que se encontravam fugidos á policia, por terem roubado um automovel, e hoje foram a tribunal, 24 horas após o sucedido. Coitadinhos dos "jovens", só andavam a roubar carros e a fugir á bófia, como dizia a colega de assalto que, obviamente, se encontra em liberdade. Estarei a ver mal o filme??
Sou eu que estou doido, ou alguma coisa esta mal no condado?
Comentem, comentem por favor...

quinta-feira, outubro 05, 2006

 
Sugestão repetida

Já fez algum tempo que eu vos aconselhei esta musica e ofereci-vos a letra, agora deixo-vos o video...
É simplesmente maravilhoso (até para quem não aprecia Nick Kave

 
Fazem tanta falta... (music by sick puppies)

Quem não necessita, de vez em quando (ou quase sempre) de um abraço, Simples, descomprometido, despretêncioso, SÓ UM ABRAÇO, È de borla

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