sexta-feira, fevereiro 22, 2008

 

Acompanhante: Pai Texto de José Luis Peixoto.

Não percebo como fui capaz de esquecer os arrumadores de carros à porta do Hospital, ou o olhar mortiço dos seguranças fardados, ou as conversas das enfermeiras no elevador. Agora, de novo, a vida parou. Os problemas, os chamados problemas, as recompensas, as ambições, as obrigações pararam. As obrigações têm de esperar porque agora, de novo tudo tem de esperar. E já me tinha esquecido da forma como tudo pode parar assim, de repente, sem aviso de como fica apenas um nevoeiro sobre os objectos.E deixa de haver outros assuntos para pensar e, menos ainda, outros assuntos para escrever. Agora, como antes, avanço pelos corredores do hospital. Como antes, os braços estendidos e um saco plástico pendurado na ponta dos dedos. Só as minhas mãos mudaram. O saco é ainda o mesmo e leva ainda os pequenos pormenores da nossa esperança, a aragem com que resistimos: frutas, bolachas e brinquedos. Agora levo brinquedos porque, agora, as minhas mãos mudaram.ENTRO NO QUARTO. E A MÃE JÁ LÁ ESTÁ, nunca de lá saiu. É assim que as enfermeiras nos tratam: mãe e pai. Para as enfermeiras, esse é o nosso único nome. Faz sentido. Para poder entrar, temos um rectângulo de cartolina cor-de-rosa com as palavras «internamento de pediatria», com o nome do nosso filho, o número do quarto e a identificação do acompanhante, no meu caso: Pai. O nosso filho está acordado e bem disposto. O nosso filho, pequeno, sentado numa cama muito maior do que ele. Com cuidado, pego-lhe ao colo. Falamos. A Janela do quarto é tão grande. A mãe e eu apontamos para longe, para o rio. Ele olha e entende as explicações, as histórias. Ele acrescenta palavras. E eu sinto-o nos braços, o seu peso. O nosso filho, a mãe e eu sorrimos. Mas, logo depois, baixa as pálpebras e diz que lhe doi a cabeça. Pouso-o sobre a cama. Metade da cama está levantada. Encosta-se. A voz enfraqueceu. E o tempo. Assistirmos ao sofrimento do nosso filho é estarmos em carne viva por dentro, é não termos pele, é um incêndio a arder no mundo inteiro, mesmo no mundo inteiro. E cada som do nosso filho a sofrer é silêncio em brasa, o peito cheio, incandescente, o mundo inteiro em brasa.Não percebo como fui capaz de esquecer todo o cinzento que entra pela janela de um quarto de hospital. Os gemidos do nosso filho de três anos são exactamente iguais aos das pessoas mais velhas, a voz é igual. São os mesmos suspiros, a mesma maneira de pousar o antebraço sobre os olhos. Não percebo como fui capaz de esquecer a mão ligada por onde entram os tubos de soro. E não podemos fazer nada. Deus. A mãe faz-lhe festas, dá-lhe a mão. E o tempo. E fica a mão pequena dentro da mão grande.AOS POUCOS, O NOSSO FILHO, que faz cara de dragão quando se zanga, que tem poderes e que manda poderes - costuma dizer: vou mandar-te poderes -, o nosso filho, que é um homem aranha pequenino, adormece. E ficamos com a noite, lenta, a desfazer-se sobre nós.O corpo do nosso filho, moldado pelos lençois com as iniciais do hospital; a sua respiração irregular; os momentos em que quase acorda com dores; os momentos em que quase acorda com as dores, mas em que continua com os olhos fechados. Depois, volta a existir um pouco de tempo para respirar regressam os sons nocturnos do hospital, a máquina que apita, os bebés que choram ao longo do corredor, e o cheiro, e o calor, e as luzes. É então que a mãe e eu sentimos que nascemos em dias específicos, em lugares específicos e avançamos por caminhos, fizemos escolhas, tivemos vocações e segredos apenas para nos encontrarmos neste menino que dorme diante de nós, e que é o rosto da nossa alma. Qualquer alteração aos pormenores do nosso passado faria com que não tivéssemos este absoluto à nossa frente.E o tempo. Só pode ficar um acompanhante a passar a noite. Essa pessoa não sou eu. Eu tenho de sair. Eu não sou a primeira pessoa na vida de ninguém, não sou a pessoa mais importante da vida de ninguém. E apesar desta verdade me doer, não me posso queixar. A culpa é apenas minha. Eu tenho de sair. Tenho de enfrentar a cidade concreta abstracta, tenho de decifrar semáforos, atravessar um certo esquecimento e chegar à casa onde espero sozinho.”

Mais palavras para quê...
Desejo as rapidas melhoras do filho. Um abraço José Luis. E obrigado por me emocionares!

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

 

O discurso de Barack Obama

Não é nada habitual neste blog o envolvimento em questões politicas, não é o seu objectivo, ponto final. Mas este senhor que eu não "conheço" está a ultrapassar a politica, e faz uns discursos inspiradores, palavras lindas, e tem um brilho no olhar...
O objectivo deste blog é mudar o mundo "yes we can". É este senhor, talvez, que vai mandar no mundo (quer nós queiramos, quer não), esperemos que se mantenha com estas ideias e que as aplique. Não somos só nós que necessitamos de ajuda neste aspecto, lá prós lados da "américa" aquilo tambem não está famoso (a começar pelo Bush). Esperemos que consiga mudar o pais que vulgarmente


 

Yes We Can - Barack Obama Music Video


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