trugia do mundo

Há pouca coisa mais bonita que a claridade emanada pelas velas de um bolo de aniversário. É uma claridade que nos faz sorrir e sonhar, uma claridade quente, o centro da mesa… da sala… do mundo. Foi na última festa de aniversário (parabéns R.) que tivemos saudades dele…
Desapareceu um dos elementos originais da trugia. Não, não desapareceu no sentido mais trágico, desapareceu, só, …, ninguém sabe dele. Bom, parece que há pessoas que sabem, pelo menos que o gajo está bem. E é isso que me importa, a mim e á restante trugia. Também não é a primeira vez que desaparece, já aconteceu numa outra altura em que teve problemas pessoais graves, e, como que para não aborrecer ninguém, com as suas pequenas-grandes coisas, põe a mochila ao ombro e àla-que-se-faz-tarde.
Tenho dias que admiro a coragem dele, de virar as costas a tudo e todos para sair pelo mundo fora, á descoberta do seu “EU”. Noutros, tenho medo que na nossa vida agitada e virada para o nosso umbigo, estivéssemos tão distraídos que não ouvimos o que os “Xutos e pontapés” chamam de “gritos mudos chamando a atenção”.
Assim lembrei-me de um texto que escrevi há uns anos, que reza assim:

“Assim de repente não me consigo lembrar de nenhum poema que glorifique a areia.
A areia, a simples areia, é uma das nossas grandes protectoras, desde a mais tenra idade.
Nos parques infantis, o solo era em areia, amortecia as quedas e colaborava nas nossas brincadeiras. Na vida adulta, entra na construção das nossas casas. Na praia, protege os nossos pés quando vamos á agua. A praia sem areia, deixava de ser praia.
Lembro-me de poemas dedicados ao mar, á praia, á lua, mas nenhum á areia. Nem um poema, uma estatua, um agradecimento. Ela está lá, pronta, julgamos que está certa, e nem um obrigado. O mesmo se passa comigo… “

Para ti Zé, onde quer que estejas, estou á espera do teu regresso. Pois da última vez, a festa de boas-vindas foi memorável. Um abraço.