terça-feira, dezembro 19, 2006

 

Tarde de Outono

Passaram á pressa, para evitar a chuva, a portada e entraram num minúsculo hall de entrada onde um balcão os separava de uma personagem feminina com pelo menos 120 anos. As roupas ficaram a pingar para a carpete verde-musgo debotada e gasta que contrastava com o branco sujo das paredes ásperas. Depois de uma breve troca de palavras, previamente ensaiadas surgiu uma toalha de turco, que foi aceite deste lado com a maior naturalidade como se de um troco se tratasse.
Faziam um par estranho se é que naquelas circunstâncias haveria algum que não fosse. Ela fez-lhe sinal, ele seguiu-a pelas escadas de madeira. Deu por ele a tentar não fazer ranger os degraus que decalcava, mas por mais que tentasse mais queixosos eles se tornavam. Também o seu medo aumentava. Aos quinze anos era este o dia que há muito esperava, como se espera o aniversário ou as ferias de verão.
Á porta do quarto respirou fundo. Ela voltou-se sorrindo – “vai correr tudo bem”, foi a primeira vez que se olharam nos olhos. Entraram.
A porta fechou-se.
- Vou pôr-te á vontade, vamos passar um bom bocado. Mas primeiro temos de lavar o material.”
Desabotoou-lhe o botão das calças e o fecho, e de uma só vez puxou as calças e os slips para baixo. Numa reacção infantil pôs as mãos á frente do sexo. –“ Vai correr tudo bem” – proferiu ela enquanto o lavava
Ele fez-se de forte e não se contorceu nem quando os movimentos de secagem foram mais ásperos, dando uso á toalha turco antes recebida. Sim, tinha de ser homem.
Ele nem tinha reparado que ela estava completamente nua, sentia-se embriagado, desamparado.
-Vem para a cama.



- Não vamos conseguir fazer nada hoje. – Referiu ela já com ele nos braços. Tinha passado já um bom bocado e ele continuava deitado sobre ela sem esboçar o mais pequeno movimento.
- Eu não vou conseguir fazer amor consigo… eu não a conheço, mas por favor não diga nada ao meu pai. Foi ele que lhe pagou, não lhe diga nada! - Só agora ela reparava na fragilidade da criança que estava deitada sobre ela, com a cabeça encostada ao seu seio como se se estivesse a esconder, o homem que ela pensava ser só uma má companhia para o rapaz era afinal o seu pai – “Ele vai pensar que eu não sou homem, só por não conseguir fazer amor com a senhora” – Ela estremeceu –“ podemos ficar aqui só abraçados? Há muito tempo que ninguém me abraça! Não lhe vai contar pois não?”
Ela respirou fundo á medida que os seus olhos se inundavam de lágrimas
- Vou-lhe contar a verdade, vou-lhe dizer que há muito tempo que ninguém me fazia sentir como uma senhora, como uma mulher.
Ele prendeu-se a ela como as raízes de uma árvore secular se agarram ao chão, para se suster durante um temporal. Ela aninhou o filho que não teve
– Vai correr tudo bem.
Ficaram abraçados, nus, dois desconhecidos, pensando nas crueldades da vida que os fez juntar naquela tarde de Outono

Comments:
????

nada, mesmo?
 
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