segunda-feira, setembro 25, 2006

 

Fim de noite

Sofreu os apertos de fim de noite, na fila da caixa de pagamentos, com sorrisos forçados e umas gargalhadas esporádicas. Passou pelo "portas", estendeu-lhe o cartão de consumo, juntamente com um "boa-noite", recebeu o único e último cumprimento sincero da noite, volte sempre...
Assim que trespassou a porta sentiu a brisa nocturna, bastante fresca, das madrugadas de Setembro. Sentiu os pêlos dos braços a eriçarem-se debaixo da seda da blusa. Sentiu falta de alguém para comentar, para se abraçar, para se rir sobre o frio que sentia, mas só pôde fazer uma carreta e zangar-se consigo própria por não ter trazido algo mais quente.
Virou a esquina e começou a descer a calçada que a iria levar até ao seu automóvel, descida longa mas fácil, como fora a noite até agora. De passo seguro, firme, recordava-se de alguns momentos fugazes que acabara de viver, ainda com um zumbido nos ouvidos, caracteristico de quem passou as últimas horas a ouvir música uns decibéis acima do recomendado.
Mais uns passos e estaria no seu carro. Virou á direita e, instintivamente com a mão esquerda, alcançou a mala que trazia no ombro contrário. Pelo tacto distinguiu a chave, e depressa se encarregou de premir o botão do comando á distância. O seu carro reagiu como se a conhecesse, alegremente acendeu duas vezes os piscas laranjas. Entrou, sentou-se e fechou a porta, com ela tirou a mascara que usou durante toda a noite. A mulher segura e decidida dava lugar á miuda abandonada que sempre fora. Olhou para espelho e os seus olhos cruzaram-se com um olhar triste e sofrido. Seria mais uma noite sozinha, mais um amanhecer doloroso, daqui a umas horas, quando acordasse na sua cama, não haveria nada que pudesse recordar com saudade.
Culpando os gins e os shots pôs o carro a trabalhar. Enquanto as lágrimas desciam pela face, atirou com a mala para trás espalhando todo o seu conteudo nos assentos em pele, um dos muitos extras escolhidos e pagos para substituir carinhos e atenções que não recebia. Como sempre, voltava para casa sozinha.

Comments:
não é muito agradável a solidão, mas pode-se arranjar maneiras de a afastar.
bom resto d semana
 
este fim de noite até foi bem mais calmo k a última noite de sábado cá na terra, parece k houve tiros em vários pontos da cidade, inclusivé na porta do Karas às 6 da matina, acabei de saber essa novidade agorinha...parece k o faroeste chegou. bejos e abraços
 
Até parece que és o confessor de alguém!!
Feliz ou infelizmente, conheço bem cada um dos passos da trajectória que descreves...
Uma pequena diferença, o comando do meu carro tá sem pilha, tem mesmo que ser a chave na fechadura! Eheheh....
Beijoca
 
bom fim de semana.
 
Talvez o proximo post tenha o titulo "mais vale tarde que nunca". Abraços
 
Já aqui o disse e volto a afirmar. Gosto de ler o que escreves. Denotas uma capacidade clara para nos trespassares com os diversos aspectos deste existencialismo em que navegamos. Os meus parabéns. Quanto de verdade não tem este teu texto.
Um abraço.
 
Escuso-me de comentar. Escrevo apenas: li, precessei e dou graças por esse tempo já ter passado!
 
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