quinta-feira, setembro 14, 2006
A alvorada

Faz mais ou menos 15 anos que a cena se repete, era a unica rotina que tinha depois da reforma. O passeio matinal na praia, só os dois. Ao principio movia-os um sentimento romântico e amoroso, mas passados tantos anos a paixão desapareceu, o amor forte e carnal vai-se sucumbindo com o dia-a-dia do casal, o casamento não é só amor, nem só sexo e amizade como diz Maria Bethânia. Conhecia-lhe cada ruga, cada imperfeição, cada sinal que os anos lhe ofertaram. Tinha consciência da forma do seu corpo, modificada pelos filhos que gerou. Olhando para ela, ligeiramente curvada sobre si mesmo, as varizes como se fossem pequenas raizes azuis a trepar pelas suas pernas e o ridiculo chapeu de palha de ába larga é dificil pensar no desejo.
Mas se olhar-mos para a nossa mão, tambem não sentimos desejo por ela, tambem não podemos dizer que amamos a nossa mão... mas não conseguimos sequer imaginar um dia da nossa vida sem ela. Acelerou o passo e foi tomar o seu lugar...ao lado da mulher da sua vida.
Comments:
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Espectacular! Adorei ler este artigo muito bem escrito. Consigo sentir as emoções que o personagem sentiu. Muito, muito bonito este episódio existencial da vida de um dia de todos nós também, um dia...
Um Abraço.
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Um Abraço.
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