quinta-feira, junho 22, 2006
Maldita gravata
A gravata incomodava-o.
Estava parado, parecia-lhe, á uma eternidade, e a gravata apertava-lhe o pescoço, como um desfiladeiro aperta nas margens, as águas de um rio. Obrigavam-no a usar este adorno desde a mudança da “ideologia da empresa”- Balelas. Coincidiu, mais ou menos, com a chegada dos gestores e administradores. Mas ele teria preferido continuar a trabalhar com os chefes e encarregados. Estava parado á uma eternidade. Maldita gravata...
Era sempre a ultima coisa que fazia, antes de sair de casa, era colocar aquele enfeite masoquista. Acordava de manhã bem cedo, gostava de sentir o seu corpo nu (dormia sempre nu) nos lençóis quentes do repouso noite. A sua mulher dizia-lhe – como podes dormir assim, com o corpo tão desamparado – ao que ele respondia - tenho-te a ti, mulher, para mo protegeres. Mas já lá iam dois anos com o desamparo completo. A doença súbita e a morte rápida não deram tempo de ele se habituar a dormir de outra forma. E agora, o que mais o lembrava do seu amor eram estes “pequenos nadas”, os seus pequenos erros e defeitos, que ele ignorava, respeitava e amava. Estava parado á uma eternidade. Maldita gravata...
Mas hoje seria o último dia com este aperto. O alivio veio ontem, ao final de mais um dia de trabalho, na forma de uma carta, quase anónima, fria e impessoal. Avisa-se o Sr. Tal que a sua aposentadoria foi aceite e que amanhã será o seu ultimo dia de trabalho nesta empresa. Não está autorizado a prestar nenhum serviço a partir dessa data... Assim, sem mais nem menos. Foi portanto feliz, mas com uma pontinha de raiva e de desespero que apertou o nó da gravata hoje de manhã. Depois de uma vida inteira a trabalhar, não iria ter de cumprir horários, nem ouvir reclamações, nem de atingir objectivos , nem... Estava parado á uma eternidade. Maldita gravata...Por fim entraram todos, fechou as portas, meteu a mudança, olhou pelo espelho retrovisor... afinal ainda vinha mais um turista,, a fugir para apanhar o seu autocarro. Coitado. Ultimo dia, ultima carreira, bem podia atrasar um instante a chegada ao destino. Mais uns segundos e a boa acção do dia fica feita, pensou.
Abriu novamente as portas e entrou um senhor moreno de calções com um bigode farfalhudo, que não conseguia disfarçar um sorriso matreiro.
Estava parado, parecia-lhe, á uma eternidade, e a gravata apertava-lhe o pescoço, como um desfiladeiro aperta nas margens, as águas de um rio. Obrigavam-no a usar este adorno desde a mudança da “ideologia da empresa”- Balelas. Coincidiu, mais ou menos, com a chegada dos gestores e administradores. Mas ele teria preferido continuar a trabalhar com os chefes e encarregados. Estava parado á uma eternidade. Maldita gravata...
Era sempre a ultima coisa que fazia, antes de sair de casa, era colocar aquele enfeite masoquista. Acordava de manhã bem cedo, gostava de sentir o seu corpo nu (dormia sempre nu) nos lençóis quentes do repouso noite. A sua mulher dizia-lhe – como podes dormir assim, com o corpo tão desamparado – ao que ele respondia - tenho-te a ti, mulher, para mo protegeres. Mas já lá iam dois anos com o desamparo completo. A doença súbita e a morte rápida não deram tempo de ele se habituar a dormir de outra forma. E agora, o que mais o lembrava do seu amor eram estes “pequenos nadas”, os seus pequenos erros e defeitos, que ele ignorava, respeitava e amava. Estava parado á uma eternidade. Maldita gravata...
Mas hoje seria o último dia com este aperto. O alivio veio ontem, ao final de mais um dia de trabalho, na forma de uma carta, quase anónima, fria e impessoal. Avisa-se o Sr. Tal que a sua aposentadoria foi aceite e que amanhã será o seu ultimo dia de trabalho nesta empresa. Não está autorizado a prestar nenhum serviço a partir dessa data... Assim, sem mais nem menos. Foi portanto feliz, mas com uma pontinha de raiva e de desespero que apertou o nó da gravata hoje de manhã. Depois de uma vida inteira a trabalhar, não iria ter de cumprir horários, nem ouvir reclamações, nem de atingir objectivos , nem... Estava parado á uma eternidade. Maldita gravata...Por fim entraram todos, fechou as portas, meteu a mudança, olhou pelo espelho retrovisor... afinal ainda vinha mais um turista,, a fugir para apanhar o seu autocarro. Coitado. Ultimo dia, ultima carreira, bem podia atrasar um instante a chegada ao destino. Mais uns segundos e a boa acção do dia fica feita, pensou.
Abriu novamente as portas e entrou um senhor moreno de calções com um bigode farfalhudo, que não conseguia disfarçar um sorriso matreiro.
Comments:
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Oie:) Obrigado pela visita ao blog.
Dei uma lida nos seus posts, são bem diferentes do que eu costumo escrever, mas bastante interessantes.
um beijo pra vc!
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Dei uma lida nos seus posts, são bem diferentes do que eu costumo escrever, mas bastante interessantes.
um beijo pra vc!
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