terça-feira, junho 20, 2006

 

Fim de linha

Foi com um sorriso matreiro, para o motorista, que entrou no autocarro. Nem sempre se tem a sorte de chegar atrasado á paragem e o condutor aguardar uns instantes para que entremos no veiculo. Quando se sentou, na primeira fila, ainda sentia o coração a metralhar dentro do peito, e a respiração apertada. Arrependeu-se de ter escolhido, para vestir, uns calções, mas queria diluir-se no meio dos turistas, e, em Roma sê romano. Nunca tinha vestido calções, depois de ter passado da infância. Em adulto sempre tinha achado desapropriado andar com as pernas a descoberto. Não se sentia bem. Também o cinto o incomodava, mas não era tempo de pensar sobre isso...
Era este autocarro que queria apanhar, se não fosse este, todo o plano poderia ir por água abaixo.
Mais uma paragem... ainda não era esta.
Entrou uma rapariga e sentou-se, apesar de haver muitos lugares vazios, mesmo ao lado dele. Começou a sentir-se nervoso, era uma linda mulher, jovem, com movimentos de riacho e a atitude de mar. O seu corpo tocou no dela numa curva mais apertada Estranho como quando avançamos na idade tudo se torna tão sexual. Estaria ela a olhar para as suas pernas, como ele estava a olhar para as dela. Não devia, definitivamente, ter escolhido os calções. Tinha receio que com os seus quarenta anos parecesse ridículo.
Mais uma paragem, ainda não. O autocarro encheu-se de turistas, europeus e asiáticos, com as suas máquinas fotográficas cheios de sorrisos e paisagens mortas e estáticas, no seu melhor angulo. A jovem mulher continuava a olhar para ele, pelo canto do olho. Noutra circunstância talvez lhe suplica-se dialogo. Ele conseguia sentir o seus olhos, na parte do corpo que ela conseguia vislumbrar pelo angulo do olhar. Lembrou-se de repente da sua mãe, e, de se ter esquecido de lhe telefonar. Ela iria perdoar-lhe, todos iriam perdoar-lhe. Baixa da cidade, pessoas, muitas pessoas, pessoas num movimento continuo e perpétuo.
Passou a mão pelo cabelo negro e pelo bigode.
Respirou fundo.
Olhou directamente para os olhos da jovem mulher.
Pegou-lhe na mão – Salam alékum – a paz esteja contigo.
Puxou o cinto e fez-se explodir.

Comments:
caraças, esta foi forte...
 
porrraaa...
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Nome:
Localização: Beja, Alentejo, Portugal
Se tiverem tempo passem por aqui:
saudades
<